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Vítimas relatam abusos sofridos no consultório de ginecologista preso no Paraná

Ao menos 15 mulheres já foram à polícia denunciar o médico Felipe Sá. Investigação mostra como obstetra usava discurso do empoderamento feminino para manipular pacientes.

Vítimas relatam abusos sofridos no consultório de ginecologista preso no Paraná

Pacientes atendidas pelo ginecologista e obstetra Felipe Sá, de 40 anos, preso na última semana em Maringá, no norte do Paraná, relataram com exclusividade ao Fantástico situações em que se sentiram violadas pelo médico durante consultas.

Ao menos 15 mulheres denunciaram o ginecologista à polícia. Uma das vítimas diz que Sá tentou hipnotizá-la durante a consulta. O consultório dele fica num bairro nobre da cidade.

Uma das vítimas é a psicóloga e sexóloga Fernanda Cassim. Ela conta que procurou o médico por indicações de outras pacientes e que foi atraída pelo discurso do ginecologista de respeito às mulheres.

Fernanda afirma que os abusos começaram durante um exame ginecológico.

"Ele estava me examinando e ele tentou me estimular e eu imediatamente disse pra ele parar e ele dizia coisas, né? Ele dizia você precisa relaxar, 'você precisa entender que o seu corpo pode te dar muito prazer', e aí eu, imediatamente quando eu percebi que ele me estimulou eu imediatamente afastei ele e sentei na maca e disse que aquilo não era um exame ginecológico... e aí ele falou que eu precisava estar mais aberta, que eu tinha que quebrar muitos tabus ainda, que aquilo não era o posicionamento de uma mulher empoderada."

Fernanda disse que só entendeu que de fato estava sendo abusada após outras mulheres relatarem ter vivido situações parecidas.

"Me dei conta, de tudo o que aconteceu, depois que uma pessoa veio e me relatou um abuso ainda maior. E aí percebi que, se eu não tivesse parado, ele teria continuado até o fim", relatou.

O advogado que representa Felipe Sá, Leonardo Batistella, diz que as denúncias feitas pelas vítimas são "infundadas".

"As alegações contra o meu cliente são infundadas e não condizem nada com o seu histórico profissional, no mais, todos os elementos da defesa serão apresentados durante o transcurso do processo judicial", argumentou.

Pediu para paciente mostrar os peitos

Uma outra vítima, que não quis ser identificada, relata que durante uma consulta o médico pediu 12 vezes para ela levantar a blusa, o que ela recusou repetidamente. Segundo as investigações, a prática é considerada importunação sexual.

Além disso, ela afirma que o médico sugeriu uma hipnose durante a consulta.

"Ele pediu pra que eu fechasse os olhos, que eu me imaginasse num lugar paradisíaco, que eu gostasse, contou até dez, estralou os dedos. Mas em nenhum momento eu estava hipnotizada, eu estava em sã consciência. Ele falou: 'Não, é sério. Se imagine tendo relações sexuais. Mas vamos fazer da seguinte forma, é a seguinte brincadeira: Você tem relações sexuais só com coisas que estejam dentro dessa sala'', conta a vítima

Na sequência, afirma a vítima, o médico insistiu para que ela se masturbasse e mostrasse os seios.

"Ele foi insistindo, insistindo nessa conversa de eu ter que me masturbar, de eu me tocar, de eu tirar minha blusa, mostrar os meus seios para ele, porque qual que era o problema de ele me ver pelada, sendo que ele já me viu pelada e daí ele, de forma bem direta, ele perguntava assim: 'Eu já não te vi pelada?'"

Em depoimento à polícia, uma das vítimas disse que, durante um exame, Felipe Sá introduziu a mão no canal vaginal dela e, depois, mudou a posição da mão, passando a massagear o clitóris.

Traumatizada, ela relata à reportagem que não consegue ver as fotos do parto feito por Felipe Sá.

"Hoje ver as fotos do parto e ter ele lá dói e está marcado pro resto da minha vida", desabafa.

Médico disse estar 'excitado'

A psicóloga Vivian Rafaela Prestes, outra paciente que denunciou o ginecologista e obstetra, relata que durante uma consulta o médico disse estar excitado.

"Ele mostrou o resultado dos meus exames e ele começou a falar de sexo oral... falou do 'pau' dele, que ele estava com o 'pau' duro, enfim...falou que os resultados dos meus exames que estavam tudo bom, então, eu estava limpinha, em nenhum momento, eu achei que ele fosse assim", disse.

Vivian conta que, após a consulta nunca mais voltou na clínica, traumatizada com o comportamento do médico.

O Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) diz, em nota, que instaurou procedimento para apurar a denúncia de possível desvio de conduta ético do médico Felipe Sá e que o processo tramita em sigilo.

A Polícia Civil investiga o médico por crimes de violação sexual mediante fraude, importunação sexual e estupro de vulnerável.

O início das investigações

Felipe Sá começou a ser investigado em janeiro de 2023, após a denúncia de três pacientes. Até sábado (17), 15 mulheres procuraram a Delegacia da Mulher para denunciá-lo.

Na próxima semana a polícia continua a colher os depoimentos das vítimas. Parte delas ainda não foi ouvida. Só depois o médico será interrogado.

O delegado da Delegacia da Mulher de Maringá, Dimitri Tostes Monteiro, é responsável pelas investigações e explica que o médico usava o espaço profissional para cometer os supostos abusos.

"Utilizava esse expediente aí, esse universo de fragilidade feminina para supostamente praticar esses atos sexuais", disse.

O delegado afirma também que as investigações não encontraram no histórico do médico qualquer formação em hipnose.

"A gente fez um estudo bem, bem amplo sobre a vida acadêmica dele, a gente não achou qualquer curso de formação sobre a temática envolvendo hipnologia. A gente acredita que ele tentou utilizar esse artifício justamente pra facilitar o emprego dessa suposta prática criminosa", diz o delegado.

Hipnose como terapia

Segundo a presidente da Associação Obstetrícia e Ginecologia do Paraná, Acácia Nasr, a hipnose é reconhecida como terapia, mas há regras.

"A hipnose é uma terapia reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina desde 1999. Por ser um procedimento, deve ter um termo de consentimento e não pode ser utilizada para redução da resistência física sem ser para uma terapia", explica.

A prisão

Felipe Sá foi preso temporariamente na tarde de quinta-feira (15) suspeito de abusar sexualmente de pacientes em Maringá. A prisão é por trinta dias e pode ser prorrogada.

Para a prisão, uma policial que está grávida se passou por paciente e marcou uma consulta com o suspeito. A estratégia foi usada para ter a certeza de que o médico estava no consultório.

Com a confirmação, de dentro do local a policial deu sinal verde para o início da operação.

No consultório, os policiais apreenderam dois computadores, um HD e o celular de Sá. O apartamento onde ele mora também foi alvo de buscas.

Ele está preso na cadeia pública de Maringá por trinta dias, mas pode ser prorrogado pelo mesmo período.

Quem é Felipe Sá

Felipe Sá mora em Maringá e tem 40 anos. Atualmente, o homem trabalha em uma clínica particular na cidade na área de cuidados com a saúde íntima de mulheres.

O médico é casado e pai de um casal de filhos. Na educação, Sá foi professor em duas faculdades de medicina em Maringá.

Nas redes sociais, ele também diz ser hipnólogo. O médico concorreu ao cargo de deputado federal pelo partido Novo em 2022, mas não se elegeu.

Conforme apuração do g1, Sá é formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e se especializou na área da ginecologia e obstetrícia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Além disso, é mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universitário da Universidade de São Paulo (USP).

Fonte: G1 Paraná

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