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Rádio Costa Oeste
O esporte tem daquelas noites que parecem escritas à mão. E Matelândia viveu uma delas no último sábado (1º), em um roteiro digno de cinema e daqueles que alimentam o imaginário popular por muitos e muitos anos. Era preciso vencer no tempo normal, era preciso sobreviver à prorrogação, era preciso resistir ao peso da responsabilidade… e era preciso acreditar. E o Adema acreditou.
A chuva forte que caiu sobre a cidade durante todo o dia trouxe preocupação, atrapalhou o planejamento, segundo o secretário de esportes Eduardo Minatti, o Dudu, mas não impediu que o Ginásio Olivão se tornasse uma panela de pressão absolutamente tomada por esperança, fé e sede de resposta na quadra.
O anúncio de entrada das equipes, digno de grandes palcos do futsal nacional, já preparava o ambiente para algo diferente. Na borda da quadra, o prefeito Gabriel Cadini seguia cada lance com tensão e vibração, enquanto a bateria Batucando empurrava o time e mantinha o Olivão elétrico em volume máximo.
O JOGO
Quando a bola rolou, o Adema mostrou por que tem a confiança da sua torcida. Lucas Gomes dividiu firme em uma jogada de marcação alta e contou com a inteligência de Leo Muniz, que devolveu para abrir o placar. A explosão das arquibancadas foi instantânea: Adema 1 a 0.
O susto veio na sequência. Em jogada ensaiada, Guilherme empatou e esfriou momentaneamente o ginásio. Mas o Adema precisava reagir, não havia margem para cálculo. Antes do intervalo, Herick mostrou frieza e inteligência. Cobrou o lateral rápido e encontrou novamente Leo Muniz, que tocou para o fundo das redes: 2 a 1 faltando 21 segundos para o fim da primeira etapa.
No intervalo, o otimismo do prefeito chamou atenção. Em entrevista ao Portal Iguaçu em Foco, arriscou: “Vamos ganhar de 5 a 2 e ganhamos também na programação”.
Segunda etapa, chuva dentro e fora da quadra
A volta do intervalo teve a chuva como personagem. A intensidade do vento molhava a quadra e o jogo ficou interrompido por longos minutos. Quando a bola voltou a rolar, Sidney lançou ao ataque, Herick dividiu com o goleiro, dominou e bateu firme para ampliar. 3 a 1.
O ADGG ainda descontou em cobrança ensaiada, Brunão acertou um chute potente no canto e deixou o duelo em 3 a 2.
Era preciso medir os riscos, tentar ampliar, ou defender o resultado?
Lucas Gomes fez jogada individual pela esquerda, passou por dois marcadores e bateu cruzado, a bola encontrou Clevi no caminho que só teve o trabalho de empurrar para as redes. 4 a 2.
Nova paralisação por infiltração e novamente os rodoboys atuaram para deixar a quadra de jogo adequada para a finalização da partida.
Na sequência, apostando no goleiro-linha, o adversário errou e Sidney recuperou para deixar Herick livre com o gol aberto. 5 a 2. O placar final decretava a virada para prorrogação que Matelândia precisava.
Prorrogação tensa e pênaltis decisivos
O desgaste peso e os dois tempos da prorrogação terminaram sem gols. A decisão foi para os pênaltis.
A frieza do Adema foi absoluta. Todas as cobranças convertidas. Do outro lado, Durval cresceu de forma gigante, pegou intensidade emocional do momento, vibrou, comandou e viu Guilherme acertar a trave na segunda cobrança do ADGG. A bola do acesso veio nos pés de Clevi, que encheu o pé e transformou a noite em história. Adema classificado para as quartas de final da Série Bronze 2025.
Justiça dentro da quadra
Emocionado, Durval classificou o resultado como justiça. “Fizemos justiça para nós e todos os outros times que não fomos de acordo com o que a federação fez”, disse, citando todo o impasse jurídico que marcou esta edição da competição e que mudou o formato de classificação após recurso generalizado das equipes envolvidas.
O presidente do Adema já havia explicado a mudança ao Iguaçu em Foco, explicando as consequências que o processo jurídico causaria no calendário da competição caso fosse até o fim no formato original.
O técnico Nuno, um dos mais emocionados da noite, reforçou a mesma linha. Ele falou sobre ética esportiva, sobre uma competição que deveria ser resolvida dentro da quadra. “Dentro do esporte devemos querer ganhar dentro das quatro linhas, e querer ganhar a qualquer custo, passar por cima do regulamento, por cima de pessoas, isso não é nobre.”
Nuno também desabafou. “Podemos ser instrumentos de justiça. E Deus é um Deus de justiça”.
Sidney, recém-chegado, assumiu não apenas postura de atleta, mas liderança emotiva de grupo. Cada arrancada, cada cobrança à torcida, cada grito no banco e dentro de quadra mostrou isso. Sua fala pós-jogo também refletiu esse papel multiplicador. “Hoje a gente focou e esqueceu essa questão dos problemas”, disse, explicando a força psicológica que o elenco precisou construir para bloquear emocionalmente o cenário externo da competição. O jogador reforçou que o grupo já viveu noites grandes, mas que poucas foram tão emocionais quanto esta: “Não tem nada ganho ainda, mas vamos conseguir o acesso, em nome de Jesus”.
O secretário de esportes Dudu traduziu a tensão coletiva que tomou conta do Olivão: “Quem esteve no Olivão deve estar com o cardiologista em dia”. A frase virou retrato perfeito da noite — porque a energia da arquibancada oscilava entre pura euforia e apreensão intensa, minuto a minuto.
E o prefeito Gabriel Cadini, que arriscou o placar ainda no intervalo, celebrou o que classificou como um dos capítulos esportivos mais grandiosos da história recente do município. “Uma noite inesquecível”, disse, valorizando não só o desempenho técnico, mas a construção coletiva — torcida, atletas, comissão e gestão pública — que empurrou o Adema para algo que vai ficar nos registros do esporte.
Próximo capítulo
O Adema agora enfrenta o Cândido de Abreu Futsal, que também virou sua série contra o Loanda. As datas serão divulgadas pela federação nos próximos dias.
A noite de sábado, porém, já está eternizada: não apenas como um jogo. Mas como o dia em que Matelândia lembrou ao futsal paranaense que o impossível é apenas questão de fé, coragem e um ginásio inteiro acreditando junto.
Fonte: Iguacu em Foco