Ouça ao vivo
Rádio Costa Oeste 106,5 FM

106,5 FM

Rádio Costa Oeste

Rádio Independência 92,7 FM

92,7 FM

Rádio Independência

Rádio Cultura 820 AM

820 AM

Rádio Cultura

Rádio Terra das Águas 93,3 FM

93,3 FM

Rádio Terra das Águas

Rádio Guaíra 89,7 FM

89,7 FM

Rádio Guaíra

Símbolo das Diretas e da Constituição, Ulysses Guimarães faria 100 anos hoje

  • 06/10/2016
  • Foto(s): Arquivo/ Estadão Conteúdo
Símbolo das Diretas e da Constituição, Ulysses Guimarães faria 100 anos hoje
'DOUTOR ULYSSES'

Assim era mais conhecido o homem que ajudou o Brasil a enfrentar momentos críticos. Mesmo sem ter sido presidente, é uma das figuras mais marcantes da República. O auge da carreira foi a aprovação da Constituição do Brasil por uma assembleia que ele, como deputado, presidiu no Congresso. Relembre a trajetória de Ulysses Silveira Guimarães, dos primeiros passos na política à trágica morte em um acidente aéreo, em 1992.

FORMA????O E CARREIRA

Nascido em Rio Claro, no interior de SP, em 6 de outubro de 1916, Ulysses formou-se em 1940 na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Entrou para o movimento estudantil na época da ditadura de Getúlio Vargas e chegou à vice-presidência da União Nacional dos Estudantes (UNE).

O primeiro cargo público veio em 1947, quando se elegeu deputado estadual pelo Partido Social Democrático (o antigo PSD) para compor a Assembleia Constituinte de São Paulo. Em 1950, foi eleito para deputado federal, cargo para o qual se reelegeu 11 vezes e que exerceu até a morte. Na breve experiência parlamentarista no Brasil, em 1961-62, foi nomeado ministro da Indústria e Comércio no governo do amigo e colega de partido Tancredo Neves. 

LUTA CONTRA A DITADURA

Já fora do governo em 1964, Ulysses apoia o golpe militar e a deposição do presidente João Goulart, mas logo vai para a oposição. Em 1965, o regime militar impôs o fim de partidos políticos, com exceção de dois: a Arena, ligada ao governo, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). A intenção dos militares era limitar as vozes contrárias à ditadura e, ao mesmo tempo, dar aparência de que havia um processo democrático no país. Naquele mesmo ano, Ulysses se filiou ao MDB.

Durante a ditadura, Ulysses se contrapôs ao regime e surgiu como líder da oposição. Ele chegou à presidência do MDB. Eram anos de chumbo. A resistência armada estava derrotada e opositores estavam presos, exilados ou desaparecidos. "A grande questão, no Brasil, para derrotar a ditadura era organizar, de certa maneira, uma reação de massa, de público, dos eleitores, da sociedade. Ele [Ulysses] percebe que o MDB podia ser um instrumento nessa direção. E ele faz um trabalho extremamente cuidadoso de reorganizar o partido", diz o cientista político José Álvaro Moisés. 

Em 1973, Ulysses decidiu se lançar como "anticandidato" à Presidência, disputando contra o general Ernesto Geisel. Seu objetivo não era vencer a disputa, que já tinha cartas marcadas. Era percorrer o país levando a mensagem democrática. "A passeata foi uma invenção como processo político na minha anticandidatura. Nós não podíamos fazer comício. Os comícios estavam esvaziados pelo medo. Então, fazíamos as passeatas. A passeata é incerta, passa por ruas que ninguém espera, e a gente verifica os acenos, o sorriso", relembrou Ulysses em uma entrevista dada em 1985. 

Geisel venceu as eleições indiretas no ano seguinte, por ter maioria no Colégio Eleitoral. Mas a campanha de Ulysses mobilizou o MDB, que teve bom desempenho nas eleições parlamentares de 1974 ??? o partido ficou com 16 das 22 vagas em disputa para o Senado e conquistou 44% das cadeiras da Câmara dos Deputados. "O crescimento do MDB todo veio dessa anticandidatura, como fruto dessa semente que ele semeou pelo país, o MDB ganhou a eleição em 16 estados", afirma o jornalista Jorge Bastos Moreno. Em 1979, os partidos são autorizados pelo regime e do MDB surge o PMDB, presidido também por Ulysses. 

DIRETAS JÁ

Os esforços no Congresso para redemocratizar o país culminaram em 1983 e 1984 na campanha pelas Diretas Já, que defendia a escolha direta dos eleitores para presidente da República. Ulysses mergulhou na campanha logo no início. Percorreu o país fazendo discursos contundentes. ???Saiam todos de casa para defender na praça hoje o voto direto???, disse ele diante de uma multidão. "As eleições interessam à sociedade, as eleições interessam ao cidadão, as eleições interessam à dona de casa, ao trabalhador. Porque as eleições constituem um fato essencial para a democracia", afirmou em outubro de 1984.

A proposta mobilizou o país, mas foi derrotada no Congresso. Mesmo assim, o Doutor Ulysses lutou para manter a oposição unida. Conversava com todos em busca de acordo. 

Em 1985, o PMDB cogitou lançar Tancredo Neves ou Ulysses Guimarães para disputar a Presidência no Colégio Eleitoral. Tancredo foi o escolhido, porque teria maiores condições de vencer. Para Ulysses, o importante era que o processo de redemocratização fosse adiante. 

Tancredo disputou com José Sarney, da Frente Liberal, um partido remanescente da Arena. O peemedebista venceu, mas morreu em abril daquele ano, às vésperas de tomar posse. Sarney acabou assumindo a Presidência e tinha como principais missões controlar a inflação e viabilizar a elaboração de uma nova Constituição, que consolidasse a democracia. 

CONSTRUTOR DA CONSTITUI????O

A tarefa de conduzir a construção da Carta Magna coube a Ulysses, eleito para presidir a Assembleia Nacional Constituinte em 1986. "Nós nunca optamos pela ruptura, guerrilha, pela solução sangrenta. E a transição não terminou. Daí chegamos, prestigiando a transição, para consolidação democrática, à Constituinte. Em tudo o que tem havido no país, são estações de baldeação. A estação final para o desembarque da democracia é a Constituinte, é a elaboração da Constituição", disse o Doutor Ulysses em outubro de 1987.

Até hoje, o político é lembrado pela grande capacidade de conciliação. Ele conseguiu que a Constituição reunisse propostas e apoios de alas divergentes da sociedade, numa época em que a abertura política fazia reflorescer também as divisões internas do país. 

Ulysses fez um discurso histórico ao assinar a Constituição. ???Num país em que 30,401 milhões são analfabetos, afrontosos 25% da população, cabe advertir: a cidadania começa com o alfabeto. [...] A Constituição certamente não é perfeita, ela própria a confessa ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da pátria. [...].??? 

Em entrevista em agosto de 1988, ele defendeu os avanços promovidos pela Carta Magna. "Primeiro, é uma Constituição corajosa, é uma Constituição avançada, não é uma Constituição de rotina, não é uma Constituição do ontem, é uma Constituição de hoje, debruçada sobre o futuro. Fala da ecologia, meio ambiente, seguridade, unificando previdência, aposentadoria e assistências sociais." 

Naquele ano, o excesso de trabalho e uso de medicamentos provocaram em Ulysses uma crise mental que durou pouco tempo. Ele teve uma forte depressão. 

Em 2013, foram achadas 600 medalhas "trancadas no cofre" da Câmara. Elas tinham sido encomendadas por Ulysses, que queria homenagear os deputados constituintes. No entanto, foram recolhidas por um juiz que questionou a compra. 

Junto com as medalhas, foi encontrado um texto escrito por Ulysses. Nele, o deputado falou sobre os avanços promovidos pela Constituição. ???Leciona a história que, para os avanços sociais, não há retrocesso. Temporariamente, a violência pode estancá-los, mas a verdade e o homem triunfam sempre sobre a tirania. Os progressos emergem e a caminhada prossegue rumo à Justiça. A marca da Constituinte de 1988 é o reconhecimento da cidadania para o homem???, diz um trecho. 


Fonte: G1

Envie sua Notícia, vídeo, foto
(45)9982-99557