A Polícia Militar vai permanecer ostensivamente 24 horas por dia, até o prazo final para a desocupação da área invadida pelo MST, na Fazenda Santa Maria, em Santa Terezinha de Itaipu, no Oeste do Paraná.
A reintegração de posse, iniciada nesta quarta-feira (18), contou com um efetivo de mais de 600 policiais militares do Estado do Paraná, além de reforços das equipes da PRF que também precisaram atuar, após a interdição da BR-277, por integrantes do MST.
Nas primeiras horas do dia o clima era de tensão no local, pois o MST bloqueou a rodovia e ateou fogo em caminhões e tratores. A PM reagiu para conter o tumulto e iniciou a negociação com os líderes do movimento.
Um acordo definiu que o MST deve deixar o local de forma pacífica em 48 horas. Algumas famílias já desocuparam a área ao longo do dia, mas os trabalhos devem continuar até amanhã (19).
Todos os integrantes do movimento que passaram pela fazenda foram cadastrados pelos policiais e tiveram os nomes consultados nos sistemas da Secretaria de Segurança Pública.
Os policiais montaram uma estrutura para acompanhar a desocupação. Após o prazo estiolado, máquinas vão derrubar os barracos dos acampados.
Nota do MST
Ainda no final da tarde dessa quarta-feira (18), o MST emitiu uma nota à imprensa.
Confira na íntegra:
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vem a público informar e denunciar que na manhã dessa quarta-feira (18/05), 650 Policiais Militares se deslocaram para o município de Santa Terezinha do Itaipu, região oeste do Paraná, a mando do Governo do estado, Beto Richa, e do Secretário Chefe da Casa Civil do Paraná, Valdir Rossoni, para despejar as famílias do Acampamento Sebastião Camargo, assim batizado a ocupação na Fazenda Santa Maria.
A fazenda ocupada em março deste ano por 1,2 mil famílias Sem Terra, pertence aos irmãos Licínio de Oliveira Machado Filho, presidente da Etesco, e a Sérgio Luiz Cabral de Oliveira Machado, ex-presidente da Transpetro, ambos envolvidos no desvio de dinheiro público na Petrobrás, citados nas delações do doleiro Alberto Youssef e do lobista Fernando Moura, durante as investigações da Operação Lava Jato, da Policia Federal. Com o despejo o Governo do Estado rompeu o acordo unilateral que previa uma solução para as famílias acampadas nos próximos 90 dias.
A mesma Polícia Militar do estado do Paraná, que realiza essa ação a mando do Rossoni, assassinou em emboscada, no dia 07 de abril desse ano, a tiros de pistola e fuzil pelas costas, os integrantes do MST, Vilmar Bordim, 44 anos, e Leonir Orback, 25 anos, no Acampamento Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu, área decreta publica pela justiça federal. A Polícia também feriu, gravemente, outros dois integrantes do Movimento, Pedro Francelino e Henrique Gustavo Souza Pratti.
Esses casos recentes de violência contra trabalhadores Sem Terra, por parte do Governo do Paraná, Policia Militar e Policia Civil, são muito semelhantes aos vividos no segundo mandato do ex-governador Jaime Lerner (1999 a 2003), onde centenas de famílias do MST passaram a ser aterrorizadas, torturadas, ameaçadas, foram mais de 120 despejos, cerca de 470 prisões arbitrárias e 16 mortes de membros do MST. Era uma política orquestrada pela elite paranaense, que se apropriou do aparelho de repressão do estado, em aliança com o poder judiciário e a mídia, atendendo os interesses dos fazendeiros proprietários de terras, com o objetivo de criminalizar e desmoralizar a luta pela Reforma Agrária, onde a luta pela terra foi tratada como questão policial e não uma questão social. A violência tão barbara que a Organização das Nações Unidas (ONU) condenou o Brasil e o Governo do Paraná por crimes contra Direitos Humanos.
A escalada da violência pelo Governo do Paraná em 2016, com assassinatos em Quedas do Iguaçu, e o despejo na Fazenda Santa Maria, em Santa Terezinha do Itaipu, coloca o Paraná, mais uma vez no cenário de violência contra os trabalhadores Sem Terra, e o Governo Beto Richa assume a postura de instrumentalizar a violência na medida que delega para Valdir Rossoni, secretario chefe da casa civil, a condução política da Reforma Agrária, atendendo os interesses dos fazendeiros e financiadores de suas campanhas eleitorais, rompendo quatro anos de uma condução pacifica de dialogo vitorioso.
Esperamos que o Governador Beto Richa, assuma para si a condução política da Reforma agrária em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e Governo Federal, norteada pelo dialogo na busca de soluções para os conflitos agrários paranaenses.
Para isso propomos:
- O imediato afastamento do Secretario Chefe da Casa Civil, Valdir Rossoni, e da Policia Militar no tratamento da questão agrária. Chega de violência, prisão, assassinatos e despejos.
- Que o Governo Estadual, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) do Paraná e Nacional, abra o dialogo e busque um plano para assentar as 10 mil famílias acampadas no Paraná.
- Por fim, alertamos as autoridades estaduais que, os governos que utilizaram do aparelho do Estado para reprimir os problemas sociais ficaram marcados na história como bárbaros, tiranos, sanguinários e violentos, e que nem por isso conseguiram sufocar e enfraquecer a luta dos camponeses para o acesso a terra, a produção de alimentos saudáveis, a educação, e a garantia de outros direitos sociais e humanos.
Fonte: Massa News